A primeira medida do governo? Fácil: preparar eleições.
Começamos bem. Ironia! Na verdade, começamos muito mal. A primeira medida do novo governo de Portugal, liderado pelo Primeiro-Ministro Luís Montenegro, foi (e pasme-se) a mudança (ou, melhor dizendo, a reposição) do logótipo do governo. Finalmente, uma medida que resolve os problemas das pessoas. Ironia (outra vez)! Esta primeira decisão foi tomada apenas a pensar nas futuras (quiçá, em breve) eleições legislativas, aproveitando a boleia e o alcance do que são visões nacionalistas, conservadoras e, perdoem-me, tão retrógradas que até cai bem o adjetivo “bacocas”. Seja por uma mera questão de gosto, seja pela “simbólica” defesa do escudo e da esfera armilar… É assustador (preocupante, até) que um Primeiro-Ministro e toda a sua equipa tenham considerado que, num tempo tão desafiante e em que se ouvem as reivindicações, esta deveria ser a primeira medida. E foi.
Mas lembremos a história: em
junho de 2023, António Costa lançava um novo grafismo e refrescava a imagem do governo.
Apenas e só isso. A imagem administrativa. Não mudou a bandeira, não mudou o
hino, não mudou o nome do país. Nada. Repito: uma nova imagem administrativa de
um governo. Como já havia acontecido no passado, como já havia sido feito em
França, no Reino Unido, Estados Unidos da América, Brasil, Países Baixos, etc. Uma
mudança que foi pensada e elaborada por um prestigiado – e premiado - designer
português: Eduardo Aires.
Nomeadamente entre quem não
estudou estas áreas, a crítica foi sempre a mesma. Ou melhor dizendo, terão
variado entre “Qualquer um de nós conseguiria criar aquilo” e “Terá sido feito
no paint?!”. E será que fazem sentido? Pois... Se optarmos por ouvir quem
estudou estas áreas, rapidamente percebemos que não fazem qualquer sentido e que
transparecem um dos mais graves problemas da nossa sociedade: é cada vez mais
fácil atirar disparates pelas janelas das redes sociais, sem qualquer
conhecimento, vergonha ou filtro. O processo de construção de uma identidade
visual é complexo, demorado e muito trabalhoso. São meses de estudo para a
criação de um manual de identidade que uniformize todos os parâmetros de uma
empresa, organismo, etc. Neste caso, estamos a falar de garantir que todos os
ministérios e organismos tutelados assumam a mesma imagem e as mesmas regras de
comunicação. Era esse o caminho que estava a ser trilhado com uma imagem mais
minimalista, mais flexível, mais ligada ao digital. Mais inclusiva. Sim, esta
nova identidade visual estava preparada para todos os tipos de comunicação. Ao
contrário da atual que não é versátil à luz das atuais exigências. Resumindo:
um tiro no pé, que faz coxear a comunicação do governo em dois campos. Na sua
imagem institucional e na mensagem que transmite.
Qual mensagem? Uma mensagem de
retrocesso, de negação do progresso e de tudo quanto aquela imagem pretendia
expressar: dinamismo, agilidade, futuro. E uma medida que, repito, mais não é
do que eleitoralista, materializando a vontade da Direita em, após se servir do
poder para fazer campanha, ir a eleições e reforçar o seu poder.
E, perante isto, torna-se fácil
concluir que Luís Montenegro escolheu fazer da sua primeira medida uma “festa” para
distrair as pessoas (técnica muito usada antes de 1974) e, em simultâneo, um
aceno aos militantes do partido ao qual havia prometido que “não é não” (muito
apreciadores do regime e das técnicas que preponderavam em Portugal antes de
1974). Escolheu o caminho que quer seguir durante a sua governação. Portanto, esta
mudança comprova que, na verdade, nada mudou. Comprova que, à nossa frente,
estão os mesmos senhores e as mesmas senhoras que, há uns anos, condenaram o
país enquanto prometiam salvá-lo. Senhores e senhoras que, em tempos, chegaram
a sugerir uma “suspensão da democracia” e que, hoje, em 2024, defendem a
“família tradicional” dos ataques desses “malvados” que pedem coisas como
igualdade, entre os quais está, por exemplo, a “ideologia de género”. Um
perigo! Ironia (vá, só mais uma vez).
Por isso e uma vez que o próprio
Governo já parece estar a preparar eleições, importa pensar: Portugal não
mereceria melhor? Uma melhor primeira medida? Um melhor Governo? Um Governo
suportado por um partido que, contrariamente ao que o PSD demonstrou na eleição
da presidência da Assembleia da República, fosse capaz de construir acordos e
garantir estabilidade?
Não tenho dúvidas: Portugal
merecia melhor. A maior prova disso vai chegar quando o filho (o Chega) superar
o pai (o Partido Social Democrata). E embora a culpa seja toda do pai, a
vitória será inteiramente do filho. E o país será o maior derrotado.
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