O comentador que foi notícia. O jornalista que é, afinal, político.
Os partidos já escolheram os seus cabeças de lista para as Europeias. Sim, vamos a votos, outra vez, no dia 9 de junho, na véspera do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas (depois dos últimos comentários proferidos pelo Presidente da República, em que descobrimos que antigo Primeiro-Ministro é “lento” e o atual é “rural”, ficamos sempre alerta perante a possibilidade de novas “revelações”). Estas listas trouxeram, sem dúvida, muitas novidades. Da esquerda à direita: Marta Temido (PS), João Oliveira (CDU), Catarina Martins (BE), Cotrim Figueiredo (IL), Francisco Paupério (Livre) e António Tanger Corrêa (Chega) são cabeças-de-lista.
E a Aliança Democrática (AD)? A AD conseguiu novamente chocar o país. Mais, até, do que o ADN que apostou em Joana Amaral Dias. É obra! Depois do choque que o país sentiu com a redução (reduçãozinha, vá) da carga fiscal em sede de IRS (situação em que todos os cidadãos perceberam mal a mensagem, menos Luís Montenegro, Joaquim Miranda Sarmento e demais membros do governo e da bancada que o suporta, óbvio…), a AD volta a provocar sensação semelhante com a escolha do jornalista Sebastião Bugalho para cabeça-de-lista. E, desta vez, parece que estamos mesmo a perceber bem. Até porque, desta vez, creio que seria difícil outros terem ideia semelhante para que a AD pudesse “perfazer” e promover como sua.
Mas e qual é o problema desta
escolha? Deste “jovem talentoso, aqui e ali polémico”…
Primeiro: é jornalista e isenção
é algo que se exige aos jornalistas. Isso está claro no código deontológico dos
jornalistas, aprovado no Congresso dos Jornalistas, no qual se refere, na
alínea n.º 11, que “o jornalista deve recusar funções, tarefas e benefícios
suscetíveis de comprometer o seu estatuto de independência e a sua integridade
profissional. O jornalista não deve valer-se da sua condição profissional para
noticiar assuntos em que tenha interesse”. O jornalismo livre e isento,
protegido do lápis azul, é uma das conquistas que caminha de mãos dadas com a
Democracia. Lemos jornais, ouvimos rádios, vemos televisão, consultamos os
sítios online e a nossa expectativa é sempre a mesma: estamos a aceder ao
trabalho de quem fez tudo o que estava ao seu alcance para nos garantir o que
mais ambiciona, ou seja, a verdade. Apenas e só a verdade. E não uma
meia-verdade ou uma verdade condicionada por interesses próprios. Muito menos
interesses que desconheçamos por nunca terem sido assumidos.
Segundo: foi notório que a clara
maioria dos comentadores dos órgãos de comunicação social, durante as eleições
legislativas, defendeu que a melhor alternativa para Portugal era a Aliança
Democrática. Contudo, também era claro que essa maioria tinha ligações à
direita. Ou seja, e como se costuma dizer, sabíamos ao que íamos. O problema surge
quando uma opinião, apresentada como estando despida de quaisquer ligações e
influências, se revela, afinal, um caminho em direção a um determinado fim.
Isso, sim, é um problema e mancha, de forma irredutível, a imagem que temos da
comunicação social, num tempo em que o tempo é maioritariamente preenchido por
comentários às notícias e não por notícias que possam alimentar pontuais
comentários. Num tempo em que, de repente, quem comenta vira a notícia que mais
comentada será.
Mas há mais. Falamos de alguém
tão convicto de que não havia telhados de vidro, que, num painel, chegou a acusar
um colega comentador, Miguel Prata Roque, de “desonestidade intelectual” e de “proferir
uma série de desonestidades que minam a relação da SIC com o espectador”.
Passados poucos dias, Sebastião Bugalho é anunciado para um lugar que, sejamos
honestos, “mina” a relação da SIC com o espectador e, acima de tudo, “mina” a
relação da comunicação social com o cidadão.
É este o problema. E, repito, num
ano em que celebramos os 50 anos do 25 de Abril e, consequentemente, também a
liberdade de imprensa, este “problema” relembra-nos o quanto temos de estar
atentos, o quanto temos de estar preparados para lutar pelas conquistas de 74.
E as imagens das ruas e dos rostos que as encheram, a 25 de abril de 2024, não
deixam dúvidas: estamos prontos para avançar e impedir qualquer passo atrás,
para fazer a Revolução e continuar Abril.
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